quarta-feira, 11 de junho de 2008

O que é seu, ao seu dono



Deixei passar O Dia das Mães, o Dia das Crianças, porque tive que reflectir um pouco sobre ambos assuntos com muita calma e objectividade. Mais não seja pelo facto de ter sido criança e agora ser mãe. Passei pelas duas coisas, e portanto com maior grau de responsabilidade em falar disso.

Primeiro, fiquei pensando em tantos comentários e elogios sobre a minha natureza materna. Pra já não sou mãe galinha, mas sim atenta e preocupada. Meu marido fica com o lugar de "mãe/pai galinha" por conta dele, todo mundo sabe disso.

E fiquei pensando onde foi que me espelhei pra ser como sou actualmente. Quem foi meu modelo de mulher e mãe que fez de mim o que sou hoje? Não, não foi a minha mãe. Embora tudo aquilo que toda gente gosta de colocar nos seus posts, como "a minha mãe é fantástica!", não se encaixe na minha visão de filha desnaturada, tenho que ser honesta. A minha mãe serviu de modelo do que eu não deveria seguir.

Não sou adepta de criar filho no berro ou no ataque histérico, na chantagem emocional, nem pensando que ao humilhar estou dando luta pra alguém. E tenho uma coisa muito boa, uma memória preciosa. Detesto o papel de vítima, não gosto de vaidade como meu cartão de visita.
Sempre deixou bem claro que a nossa vinda (os 4 filhos) foi indesejada.

Então será que foram as minhas avós? Bom, minha avó paterna tinha uma certa dose de demência, cismou que eu tinha os pés grandes, então resolveu de que cada vez que eu ia visita-la, me amarrava os pés com elásticos para eles não crescerem tanto. Isso é só uma amostra.
Minha avó materna, boa cozinheira, excelente bordadeira e dona de casa, foi muito rígida com as filhas. Mas como diz a minha irmã, como toda pisciana, chorava até pra trocar lâmpada. Tudo era uma tragédia, tudo estava fadado à desgraça e a nossa vida era um vale de dor e sofrimento. Xiça!

Quem foi então meu exemplo? Quem me deu as bases? Pasmem, foram os meus "avôs". Do lado paterno, um ex Sargento da Cavalaria que transbordava de paciência. A forma carinhosa e atenta com que lidava comigo e com o peste do meu irmão era absolutamente irrepreensível. Não era o caso de fazer as nossas vontades, era o facto de perder tempo com a gente e fazer-nos sentir amados.
Meu avô materno, um homem do campo, apaixonado por carros e tudo o que tivesse rodas, era uma óptima companhia na adolescência. Tinha um sentido de humor delicioso, próprio de todo alentejano. Pena que eu não o peguei mais novo, pois sei que praticava com a minha tia a Marcha Atlética. Era um homem de leitura, sacudido, impossível de ficar quieto no mesmo lugar muito tempo. Tal como eu adorava filmes e música. Foi meu protector quando comecei a fumar.

Aprendi com ambos que a paciência é a chave de uma boa educação, que quando uma criança pergunta porque? não se responde porque sim. Aprendi que berrar não ajuda em nada, que não existe filho preferido. Aprendi muito com os dois. O resto, foi um verdadeiro "faça você mesmo".

Então, pra ser verdadeiramente honesta comigo, meus filhos e todos os demais, o facto de agora ser uma mãe razoável se deve ao facto que fiz tudo ao contrário do que a minha mãe e avós fizeram. Que se houve exemplo a seguir , foram dos meus queridos velhotes. Vô Chico e vô Tista.

O resto, é mérito meu, justo e honestamente alcançado.

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