segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Chaves




Assunto controverso aqui em casa. Porque temos histórias rocambolescas a respeito de chaves.
Algumas, que hoje , vendo à luz daquilo que a gente chama bom senso...seria uma loucura.

Sabe o que é, marido trabalhando noutra cidade, eu grávida de 20 meses (não era de verdade mas a sensação era essa) e ele ter que sacrificar a hora de almoço pra vir abrir a porta de casa...porque deixei as chaves lá dentro?

E sabe o que é duas semanas depois, acontecer o mesmo, deixar as chaves em casa, e só pra não chatear o moço de novo...andar pelo telhado do prédio pra entrar ela janela da casa de banho??

Eu fiz isso.

Chamei uma vizinha pra tomar conta do meu filhote de 3 anos, enquanto eu, mesmo grávida, estava menos larga que essa vizinha e consegui passar pela janela da arrecadação, andar todo o telhado do prédio e entrar pela janelinha da casa de banho...
Uma proeza que hoje vendo bem à luz da razão é de arrancar cabelos... eu andando em cima de telhas...lá no alto. Justo eu que tenho vertigens.

Ou quando ainda namorava, levei as chaves de casa pra ir buscar um casaco antes de ir pro cinema com o namorado ( actual marido). Minha mãe, que estava numa Feira, pediu que eu deixasse a chave atrás de um vaso na entrada da porta. Verdade seja dita, fiz tudo e mais alguma coisa com o namorado além de pegar o casaco, de modos que fiquei até em cima da hora pra ir ao cinema.
Quando coloquei a maldita chave atrás do vaso, eis que escuto TODA a minha família entrando no prédio: mãe, 3 irmãos, tio, tia, primitos, avós...e eu lá....
Sabendo que não podia usar o elevador nem as escadas (tanta gente era, que tiveram que se dividir por essas duas vias) que me vi obrigada a puxar o namorado pelas escadas acima, ficar no corredor das arrecadações e esperar. Esperar que todos entrassem pra podermos fugir.

Nisso, escuto aquela voz "doce" e nuns decibéis mais acima do normal, minha mãe, a dizer: "Aquela miúda cabeça de vento esqueceu de colocar as chaves aqui..."
E eu, que sabia que tinha colocado as chaves atrás do vaso, olho pro meu namorado que calmamente comia um bolo de azeite (típico bolo alentejano, trazido pela minha avó), sentado nos degraus da escada na maior paz nem se dignou a ficar preocupado!!!

Nisso, ela vira pro meu irmão e diz: " Tens que ir ao cinema e pedir a chave à tua irmã"
Belo!!! Eu ali nas arrecadações, meu irmão ia ao outro lado da cidade, pra chegar ao cinema e não me encontrar...porque eu estava nas escadas da arrecadação. Vi minha vida passar diante dos olhos. E o namorado na maior paz do mundo.. e ainda sorriu pra mim!!!!!

Eu já estava jurando pra deus, que se eu saísse dessa enrascada ilesa, nunca mais faria test drive com o namorado...que só cansando...(ainda sofria de alguns tiques apesar de ser uma ex-TJ).

Nisso, escuto a porta do apartamento da vizinha da frente a se abrir, e a vaca a dizer pra minha mãe: "Vizinha, eu vi a sua filha colocar as chaves aqui, achei estranho e resolvi guarda-las...são suas não são??" . A PUTA!!! Tinha ficado com o olho colado no ralo da porta, vendo tudo, desde que tinha chegado até a aquele momento.

Não preciso nem dizer que, depois de todos eles terem entrado, disparei por dali rumo ao cinema.

Chaves.

Dois carrinhos de supermercado cheios, duas crianças pra lá de cansadas e já chatinhas, chegámos ao carro e nada de chaves. Detalhe: carro da firma. Começando a chover, um frio horrível, e o tipo que me criticava de sempre ter problemas com as chaves, com um sorrisinho besta na cara. "Acho que perdi as chaves do carro" disse ele na maior cara de pau. Felizmente, os Perdidos e Achados do supermercado tinham recebido as ditas de um cliente que achou no chão.
Desculpa do Réu: o bolso do colete. Humpfff!!! Isso é desculpa?

Chaves. A evidencia de que não vivemos num mundo seguro, que precisamos trancar as nossas vidas. Ainda e lembro de quando a porta da rua ficava só no trinco. Bons tempos.

Felizmente agora, divido a responsabilidade das chaves com os meus filhos, senão, o marido tem que vir de Espanha de propósito abrir-me a porta....

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