Aqui deste lado do Oceano, chega em passos largos a Primavera, anunciando (espero bem que sim) o final da estação mais indesejável para mim, o Inverno.
Não preciso olhar para o céu e ver a chegada das cegonhas e andorinhas, para saber que a Primavera vem aí. É um fenómeno físico por assim dizer. O nosso corpo vai largando uns avisos a cada dia que passa, subtis, mas ali, mesmo na nossa cara.
Com as tardes mais quentes, surge a urgência de descascarmos a roupa, ver-nos livre dos casacos, botas, blusas de lã e afins. Esgota a nossa paciência vestir camadas de roupa todos os dias, só para nos manter numa temperatura aceitável à condição humana.
Parece que com o sol, os dias mais amenos, o despontar das folhas e flores, o nosso corpo desperta para uma nova fase. E não é de todo uma fantasia isto que digo. Basicamente somos animais,mamíferos, vertebrados, bípedes com a única vantagem de um dedo oponente. Tirando a facto de sabermos também vocalizar umas quantas palavras, somo animais, com instintos e necessidades , e vivemos em conjunto com os ciclos naturais.
Hoje acompanhei uma amiga minha numa saída puramente fútil : ver as modas. É barato, porque é mesmo só ver. Mas, durante uma caminhada para o carro, onde ela me falava de um amigo especial, que pelo que parece, pra ela está se tornando mais do que especial ela me joga esta:
"Tava aqui a pensar, comprar uma lingerie assim toda charmosa, meia preta, aquelas botas que eu tenho todas giraças e uma gabardine por cima....e me encontrar com o gajo assim...o que achas?"
.......vou achar o que? Tens vontade faz isso...mas aguenta as consequências desse acto viu?!
Demos as nossas voltas pela cidade, e acabamos no Shopping, e lá em cima, fomos dar uma olhada na loja de lingerie. Despertou uma série de coisas em nós duas:
Pela primeira vez fomos atendidas com uma simpatia sincera pela vendedora, pois as dessa loja costuma ser bem antipáticas. A minha amiga, essa acabou experimentando um corpete lindo, bué de romântico, e muito motor de arranque. Aliás, altamente motor de arranque.
Ficou-lhe no goto. Acabamos por não comprar (ainda) nada, e fomos à procura da nossa sopinha da ordem.Juntou-se à nós uma terceira pessoa, uma amiga minha com um sentido de humor tão grande como a auto estima. Tinha trazido comigo os livros da colecção de lingerie e ficamos vendo juntas e falando de várias coisas. De como ela uma vez manda uma msn para um alvo, em que dizia: "Se visses a lingerie que trago vestida , até a arrancavas com os dentes". E coisas assim.
E depois a pergunta que ficou é: é só atracção física que conta?? Química?? Ou um conjunto de várias coisas, nas quais a atracção e a química pesam na balança?
Porque não há relação que aguente apenas baseada no físico, nos sentidos, isso só não chega. Da mesma forma que o carinho e afeição, não chegam pra aguentar duas pessoas juntas.
Encontrar o equilíbrio entre essas duas coisas, o lado animal e o lado racional é que acaba complicando a vida entre duas pessoas. Afinal, nada é perfeito, e nada se resume à euforia de querer comprar lingerie como motor de arranque numa relação.
Mas verdade seja dita, embora a gente anda não saiba como e nem por que a gente sente este foguinho crescendo dentro de nós, e que desejo deixa de ser uma palavra apenas, passa a ser uma parte de nós.
E mal de quem nunca sentiu isso, ou se sentiu, sufocou de tal forma, que acha errado quem sente e quem tem o prazer de ter prazer com quem ama.
E mais não digo.
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