quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Filho ou As delícias da maternidade


Acho que algumas pessoas que dão uma lida neste Blog já tenham percebido que a maior parte das coisas que me acontecem, não são nada vulgares.

Se não são invulgares, pelo menos são caricatas, tem o seu quê de surreal. Mas com o tempo habituei-me à essa contigencia da vida.

No final do passado mês, meu filho mais velho fez anos. Maravilha, várias pessoas deram-lhe os Parabéns, e apenas uma (minha irmã) se lembrou de dar parabéns pra mim também. E digo-lhes, é injusto apenas o rapaz merecer festa, toda mãe deveria ter uma por cada filho que coloca voluntariamente neste mundo.

No meu caso, como de tantas outras, extremamente desejado. E como foi difícil lutar contra o meu corpo que teimava em me negar ter a coisa mais natural do mundo. A primeira tentativa redundou num aborto expontaneo. O primeiro choque e quase um atestado de incompetência.

Depois foi uma ano cheio de tensão, consultas, temperaturas basais (um saco), exames, análises para chegar à isto : meu ciclo era louco (como a dona dele), e apenas precisava ser regularizado.

Então, foi me dado o tratamento, com a devida medicação (que cá entre nós ia me colocando em doida, mexeu demais com o meu equilíbrio precário hormonal) e como se não bastasse, às relações programadas pra data da subida da temperatura basal.

Não há coisa mais incapacitante, ou brochante como se diz no Brasil, do que TER que fazer naquele dia, porque era O DIA. Aquela coisa de quando chegava o marido do trabalho, podre de cansado e dizer no nosso código : Hoje subiu.

Detalhe, na época morávamos na casa dos meus sogros, o que já de si, fez com que eu merecesse um lugar no céu, com suite virada pro mar e uma legião de servos. E como se não bastasse isso, meus cunhados também lá moravam.

Então, quando finalmente fiquei grávida, me senti mais ou menos como se fosse uma barriga de aluguel, que carregava dentro de mim um D. Sebastião. Porque ninguém perguntava como eu estava, mas sim como estava o bebé. E todos os olhos em cima de mim , com medo que prejudicasse de alguma forma o Infante por nascer. Bolas, ninguém mais do que eu desejava que essa criança nascesse bem e saudável. Mas enfim.

Passei dos meus habituais 45 quilos para uns abomináveis 78 quilos. Tudo porque não podia me mexer, placenta baixa...bosta. Era só comer, dormir e pouco mais. Uma gravidez de alto risco. Bosta outra vez.

Meu Médico de Família, radiante, porque durante anos tentou que eu engordasse , sem sucesso. E eu parecia uma balão meteorológico. Enorme e redonda. A minha Gineco/Obstetra, sempre atenta. Fiz mais de 10 Ecos, vigilância apertada do Hospital, tudo em cima.

Só que o rapaz... não queria sair nem a pau, passou uma semana do prazo. Olhando pra minha barrigona falei à sério com ele: "meu filho, eu tenho que me levantar 300 vezes durante a noite pra fazer xixi (aliás, dormi sentada na sanita por duas vezes...), não vejo meus pés fazem uns 4 meses, eu pra sair da cama , tenho que acordar teu pai, porque pareço uma tartaruga de barriga pra cima. Doem-me as costas, as pernas, os pés. Tô farta de estar sem fazer nada...portanto, se o menino não quiser sair de livre vontade, amanhã, na consulta peço pra provocar o parto...ok??"

Não sei se foi esse ultimato, ou o facto de eu ter me empanturrado com papos d'anjo, que levou à que a criança se resolvesse a fazer pela vida: 4 da madrugada...um xixi e uma pontada nas costas....

Olhei pro relógio, primeiro parto, pensei, tenho muito tempo. Enganei-me.
4 e 20, segunda pontada e bolsa rompida.....ô meu santo...cotovelada no marido...3 segundos depois ele vestido.

Detalhe, maior calor, portanto, dormia sem roupa...imagine-se a vestir, com a bolsa rota...e lembrando o que a enfermeira parteira tinha ensinado: não se mexer muito pra não haver prolapso do cordão umbilical. Então fiquei naquela de : me visto ou fico aqui vazando?? Não me visto e dou espectáculo nas Urgências do Hospital?

Resolvi a situação, colocando uma toalha entre as pernas e vestido apenas o robe... e chinelos.

Numa casa onde tinham 4 carros, fomos justo escolher aquele que se recusava a pegar. Já estava meu marido a perguntar o que mais faltava acontecer, quando o chaço se dignou a pegar. E lá fomos pro Hospital. O carro deixado mesmo na boca das Urgências, aberto e lá fui eu pra dentro em robe, com uma toalha entre pernas e resmungando a cada contracção. Seguidinhas.

Nem uma cadeira de rodas ou uma maca me deram, meu marido branco como a cal, o bebé me empurrando as costelas e eu parando pra cada contracção. E assim fui eu até a Maternidade, onde me esperava um médico de plantão que nem merecia ser Veterinário. Porque até os animais devem ser tratados com respeito. Tive sorte porque mudaram os turnos.

Fiquei sozinha na Sala de Dilatação, ou as Boxes, como carinhosamente chamam. Lembrando das aulas de preparação pro parto, fui respirando, cantando o 1º de Agosto dos Xutos & Pontapés, sabe-se lá porque, e dei-me conta que pensava numa coisa aberrante:

Aquele menino, que eu tanto queria ver a carinha, pegar no colo, ensinar a falar, sairia mais cedo e mais tarde. E se deixassem-no cair no chão? E se fosse trocado ou roubado do Hospital? E se algum maluco na rua, visse meu bebé tão lindinho fizesse mal à ele?? E se ele fosse pra escola, e os coleguinhas batessem nele??

Virei pra ele e disse : meu filho, não sai daí, fica aí dentro que pelo menos eu posso te proteger sempre!!!

Paranóia pura.

Mas como esse garoto nasceu pra me contrariar, resolveu vir ao mundo depressa: ainda nem eram 10 da manhã e já aqueles pulmões berravam a toda brida. E como esse garoto berrava....
Acordou a ala toda da Maternidade, e os outros bebés, por simpatia ou solidariedade, resolveram entrar no coro. Nunca vi tanta enfermeira correndo de um lado pro outro, tentando ajudar as mães a acalmar aqueles pequenos berrantes.

E assim, o meu primogénito nasceu, pra fazer confusão, contrariar as regras, ser inconveniente (pô nem deixou eu dormir um pouco), glutão, senhor de seu nariz... de tal forma que, quando fui ao meu Médico de Família, um mês depois, tinha voltado aos meus 47 quilos...pra desespero do médico.

E assim, na desdita de ser mãe, mesmo por vontade própria, somente o fedelho recebe os Parabéns. Esquecendo que pra ele chegar onde chegou, teve que contar com a entusiástica colaboração dos pais, porque sem isso, ele cá não estaria.

O mais caricato da situação é esta: apesar de tudo, engravidei do segundo filho sem tratamentos, sem stress...foi na base mesmo do momento de loucura.....ahahhahaahahah.

Quanto mais a gente anseia por engravidar, menos consegue. Acho que as coisas nos acontecem quando tem que acontecer. Mais nada.

1 comentário:

FAXINEIRA disse...

E meu...... que patética eu sou, chorei lendo isto. Argh!!!! E nem na TPM estou.