domingo, 4 de janeiro de 2009

Não sumi, apenas fiquei remoendo..




Um dos maiores privilégios que eu tinha, era poder ver e ajudar meu avô Tista a enfeitar a árvore de Natal.

Isso porque, na casa dos meus pais, por motivos religiosos, não se comemorava essa data. Mas meus avós, mais pelos netos pequenos, faziam as decorações de Natal e orelhas mocas aos sermões estúpidos dos meus pais.

E ficava fascinada quando meu avô Tista ia colocando os enfeites, todos de vidro, delicados e coloridos. Quando acendiam as luzes da árvore...meu santo...ficava tão contente e nem sabia bem porque. Lembro que meus avós passavam o Verão na Europa e quando chegava o frio, voltavam para o Brasil. Isso quer dizer que viviam no Verão permanentemente.

Mas quando voltavam, traziam coisas que para uma criança pequena e gulosa era novidade: bengalas de açúcar e hortelã, botinhas de açúcar cheias de um licor adocicado, bolinhas de chocolate e licor...

Nunca pedi nada para o Pai Natal, nem meus pais deixavam, mas sempre tinha um boneca à minha espera ou outro brinquedo qualquer. Por isso, crescendo na descrença dos meus pais, me acostumei a não desejar nada que não pudesse ser explicado de forma convincente. E me tornei céptica. Cedo demais.

Perdi meus avós paternos, cresci já liberta do peso religioso e me tornei pragmática. Mas aprendi a lição muito bem: criança tem direito de sonhar, e cabe aos adultos darem essa oportunidade de terem sonhos. Pra poderem depois crescerem e tomarem tento à realidade. Mas infância só acontece duas vezes na vida: uma quando somos pequenos, outra, no fim da vida. Mas acho mais divertida quando somos pequenos.

Meus irmãos mais novos tiveram a sorte de poderem viver essa pequena fantasia, que com muito trabalho conseguimos realizar. Lembro dos Natais juntos com meus avós maternos e tios e primos, já aqui em Portugal. Do trabalhão que era esconder as prendas deles na arrecadação, de fazer os saquinhos com os doces...do trabalho ingrato de coloca-los na cama e que ficassem lá...bons tempos.

Tive meus filhos, deixei que tivessem as suas ilusões infantis, porque acredito nos rituais de crescimento. Meus filhos acreditaram em Pai Natal, na Fada do Dentinho, Coelho da Páscoa e toda essa alegoria que faz parte da nossa vida.

Lembro de num natal, meu filho mais novo teria uns 5 anos, deixou junto à chaminé um bilhetinho e um Halls de limão e mel para o Pai Natal. No bilhetinho dizia: "para o senhor não ficar constipado".

Lembranças....

Eu não escrevo cartas ao Pai Natal, nem acredito em contos de Fadas, mas desejei muita coisa no fim de ano de 2008.

Relutantemente dei-me conta que continuamos a ter o mesmo 1º ministro, que o mundo começou com guerra, que injustiças continuam aqui, nas nossas barbas e buços, e que pouco mudou.

Esse velho safado vestido de vermelho não ouviu meus pedidos, que ao fim e ao cabo eram bons pra todo mundo. Mas vou dar-lhe um desconto: ele enche a cabeça das crianças com sonhos. Só disso merece o meu benefício da dúvida.

E para a minha Fifia, espero que durante muito tempo possa ser criança, que sonhe, que tenha ilusões e decepções. Porque é assim que ela vai crescer aprendendo que uns dias as coisas podem acontecer, noutras, a gente tem que levantar a cabeça e seguir em frente.

E só isso.

Ps: As luzes aí de cima, são parecidas às que o meu vô Tista usava na árvore, a única diferença é que as dele eram de vidro...

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