Todo mundo tem um sonho que nunca pode realizar, uns meio loucos, outros nem por isso. Claro que tenho alguns que são pura utopia. Mas um desses sonhos era muito querido.
Sou uma ex- futura arqueóloga. Desde novinha sonhava com a possibilidade de fazer parte de uma escavação, procurando caquinhos, juntando quem sabe, um vaso etrusco, ou um osso de um dinossauro qualquer.
Por uma série de motivos, que agora não vem ao caso, não pude realizar esse sonho. Mas outro dia, ao pegar a roupa do cesto pra lavar... deparei com um mistério: como é possível meu filho mais velho ter as meias desencontradas??? Encontro uma branca, uma cinza e uma azul.....uma de cada. Tenho certeza absoluta que o rapaz tem duas pernas, então como é???
Bom, entrar no quarto dele, tem os seus quês. Qualquer dia só entro com catana, tamanha a bagunça. Computadores abertos, placas mãe espalhadas pelo chão, um emaranhado de fios na mesa...caixa de ferramentas aberta em cima da cama....dá medo.
Olha, tive que arrastar a cama, pra encontrar as meias e uma T-shirt que ele jurava ter perdido na escola. Fora uns ténis que ele disse que estavam no cacifo da escola e eu pedindo pra trazer pra lavar....tudo esquecidos nas brumas desse quarto.
Vou no quarto do mais novo, a estante, com os livros em equilíbrio precário, no chão o castelo mais duas dúzias de soldados medievais, uma torre feita de lego....e eu a querer passar aspirador.
Bato com o tubo do aspirador na torre de Lego...que se despedaça. Lá começo a montar tudo de novo, pecinha por pecinha tentando dar a forma original, faço o meu melhor.
Dois quartos, dois filhos, dois mundos diferentes.
Depois tem o meu marido,que quando me pergunta onde para o papel tal, que ela pensava que estava na gaveta tal...vou procurar na gaveta mais obscura da casa... uma verdadeira aventura.
De facto, não sou arqueóloga como sonhei na minha meninice, mas de certa forma, adaptei um sonho na minha realidade. Mesmo vendo isto tudo pelo lado anedótico, sou uma arqueóloga sim. Fazendo minhas pesquisas nos campos desta casa, conhecendo as cabeças destes meus rebentos e vendo uma nova realidade se formando.
E o resto é conversa.
PS: para dizer a verdade, aos 4 anos queria ser hospedeira... justo eu eu tenho vertigens até de salto alto...
2 comentários:
Cenas do cotidiano. Muito bom!
adorei, um argumento da vida cotidiana em relacao com arqueologia; gostei muito
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