Se tem estômago fraco, sai da página.
Ora bem, comecemos. Meu irmão mais novo é pai recente. E como pai recente que é, procura ser um super pai. Pior coisa que pode acontecer pra quem tem filhos é o pestinha não querer comer aquilo que os pais querem e que acham que devam comer.
No caso, minha sobrinha Fifia ( é assim que ela diz o nome dela) tem as suas preferências: tem dias de só querer comer feijão, tem dias de só comer banana e por aí adiante. O que pro meu irmão, que nasceu com dentes até aos pés, é uma afronta à dignidade dele de pai.
Esse meu irmãozinho, comia cebola crua como a gente come maçã, comia batata crua, sabonete, tudo aquilo que deitava a mão, marchava pra boca.
Meu outro irmão comia a comida do cachorro da minha madrinha, um bonacheirão Boxer, tamanho Xl, que não se importava nada com isso. Aliás, os dois dividiam a gamela juntos. Um nojo de resto de comida e baba de cão.
A minha irmã, que nasceu com síndroma de princesa, só comia comida de boião. Quem nunca provou aquela mistela pode achar que até é uma boa ideia. Mas sem falar da despesa astronómica, ela só usava os dentes pra roer doces. Agora é vegan.
Eu fui uma coisa ruim por demais pra comer, abria a goela, chorava e fazia birra, dizia que a comida da vizinha era melhor. E enquanto eu ia pra casa da vizinha, a minha mãe passava o prato por cima do muro...e eu acabava por comer tudo, num prato diferente, mas da comida da minha mãe. Depois, entrei pra escola, e aí a minha mãe brigava pra eu parar de comer, que eu comia demais.
Todo pediatra, todo livro sobre crianças dizem o mesmo. Até mais ou menos os 4 anos há a fase de aberrações alimentares. A fase mais aguda se situa nos dois anos de idade. Idade da Fifia.
Então é assim, ele força a menina pra comer (tal como meu pai fazia, chegava mesmo ao ponto de comermos duas vezes : uma na tromba e outra a comida do prato). E sabendo o que sei hoje, mãe de dois filhos, não há pior guerra no mundo do que na hora da refeição.
Criar braço de ferro entre pais e filhos na hora de comer, é horrível. Aliás, tanto uns como outros já vão pra mesa sabendo que vai ter forrobodó. E cada um afina as suas tácticas pra vencer nisso. E sabem de uma coisa? Não tem vencedor.
Ficam todos enervados, ninguém come direito, há choro, há vómitos, recriminações e mais nada.
E mais, se a Fifia for levada pra comer longe da presença dos pais, há de comer tudinho sem choro, briga ou ralhete.
Depois de ter passado em casa dos meus pais por situações aberrantes nesse assunto, falei com médicos, li e falei com muitas mãe. E decidi não fazer da hora da refeição uma tragédia. Nem me senti menos mãe por isso. E fiz uma comparação bem lúcida do assunto: a quantidade.
Uma criança de dois anos, não pode, não deve comer em prato raso de adulto. Uma criança de dois anos tem um estômago de tamanho menor que de um adulto. Um prato de sobremesa é o ideal. Se a criança quiser repetir, melhor.
Todo médico fala que entre se empanturrar de uma vez só, o ideal pra todo mundo e dividir as nossas refeições em 6 ou 7. Preferível uma criança, que hora come uma peça de fruta, hora come um yogurt, do que querer que ela coma um prato cheio no almoço de arroz , feijão, salada e bife.
Eu sei que na cabeça do meu irmão ele faz o melhor que pode e acha nesse assunto. Também sei que ele não quer uma filha tão enjoada como a minha irmã. Mas cada um é como é.
E esta fase, há de passar.
Só gostava que se quebrasse certos vícios de "criação", onde TEM que ser assim e mais nada.
Somos a nova geração, cabe-nos mudar o que estava errado, não perpetuar os erros alheios.
Cansei.